De produtos físicos ao SaaS: Estudo prático sobre estratégias de Aquisição e Retenção
Explorando como a integração de dispositivos conversacionais facilita a experiência das pessoas em sua jornada.
A jornada com o Apple Music começou com a compra de um HomePod Mini. Este dispositivo da Apple, atualmente disponível apenas nos Estados Unidos, chamou minha atenção por seu preço acessível em relação ao preço desses dispositivos e ainda assim tem funcionalidades interessantes. Decidi testá-lo para ver como ele poderia transformar minha experiência musical.
A minha experiência anterior foi com a Alexa, um dispositivo de áudio que responde aos comandos de voz que permitem ser possível uma série de automações e execuções de comandos, apenas utilizando a voz literalmente. Posso pedir desde alguns comandos mais complexos ou comandos simples, como programar um timer ou ainda tocar música apenas utilizando a voz e a assistente responde.
O HomePod Mini funciona de forma similar a uma Alexa da Amazon, mas por razões óbvias utiliza a Siri, a assistente de voz da Apple. Inicialmente, tentei usar alguns aplicativos de música que já tinha, como o Spotify, mas percebi que ele não era muito amigável para comandos de voz.
A Apple, de maneira sutil, incentivava a utilização do Apple Music, seu aplicativo nativo de música, que permitia comandos de voz diretos. Enquanto isso, o uso do Spotify no contexto específico da utilização do HomePod exigia interações manuais, como cliques ou toques no aplicativo para poder reproduzir o som, pois a Siri não atendia ao comando de voz para reprodução de música pelo próprio Spotify.
Essa experiência me levou a explorar mais profundamente o Apple Music e a valorizar a integração perfeita com o HomePod Mini.
A evolução da experiência musical
A história da música e o comportamento humano evoluíram bastante.
O rádio, por exemplo, sempre foi um recurso passivo. Você ligava o rádio e sintonizava em uma estação, onde simplesmente escutava as músicas selecionadas por outras pessoas. Com pouca interação além de mensagens ou chamadas telefônicas. No máximo você selecionava o tipo de rádio e ficava condicionado ao estilo musical disponível nas rádios.
Conseguir, como por exemplo, algum nível de interação ou fazer a sua música selecionada tocar numa rádio era um acontecimento histórico. É quase como hoje em dia um influencer fazer uma menção para alguém desconhecido, comparativamente falando.
Com o tempo, evoluímos de LPs e CDs para MP3 Players, como o iPod da Apple. Esses dispositivos físicos permitiram que as próprias pessoas colocassem as músicas de sua preferência, ou uma sequência de músicas sem interrupções e sem propagandas, mas eram limitados pela capacidade de armazenamento do dispositivo — seja ele físico ou digital.
Tudo isso de forma personalizada e altamente customizada, pois você selecionava a artista, a banda ou o tipo de música. E dependendo do dispositivo, poderia inclusive determinar a ordem das faixas ou simplesmente pedir para reproduzir ordens aleatórias. O que foi um avanço na época.
No entanto, isso gerava certas limitações. Uma vez que você conhecia a quantidade de músicas no dispositivo, ou você adicionava mais músicas, ou já sabia quais músicas estavam lá. Essa previsibilidade afetava a experiência de descoberta de novas músicas.
As pessoas eram condicionadas a buscar “fora” do dispositivo novas opções ou comprar novos LPs, CDs ou baixar novas músicas.
Claro que, no meio do caminho, tivemos Napster, BitTorrent, mas nem vou entrar nessa seara.
Mais recentemente, tivemos a introdução do SaaS como conceito de produto e a introdução do Spotify no mercado. O Spotify se estabeleceu como uma plataforma revolucionária, combinando a conveniência de um vasto catálogo de músicas à disposição com personalização e recomendação contínua. E você podia começar escutando tudo de graça, sem pagar nada, apenas criando uma conta no aplicativo.
O Spotify encontrou um sweet spot*, onde oferece uma vasta coleção de músicas ao mesmo tempo que consegue oferecer uma experiência personalizada e contínua, mantendo a sensação de serendipity** que faltava nos dispositivos anteriores.
*Sweet spot ou um ponto doce, ponto de otimização que encontra um equilíbrio quase perfeito.
*Serendipity se refere a atos, ao desenvolvimento ou descoberta de coisas felizes/úteis, ou interessantes por acaso.
Os desafios com o Apple Music
Do ponto de vista de onboarding, encontrei algumas dificuldades com o Apple Music. Uma delas foi a falta de preocupação do produto em entender se eu já tinha uma lista de músicas personalizada em outro software de música, que poderia ter sido incorporada. Isso resultou em uma sensação de que teria muito trabalho pela frente, pois minha personalização estava vazia e não havia nada configurado inicialmente.
Por outro lado, um aspecto positivo foi a qualidade das músicas no Apple Music. Além de encontrar playlists focadas em determinados assuntos, também tive a oportunidade de explorar playlists técnicas voltadas para o áudio espacial.
Essa é uma característica dos dispositivos da Apple que permite áudios com maior qualidade do que o estéreo tradicional, proporcionando uma experiência imersiva quando se utiliza dispositivos específicos para escutar nessa modalidade.
Apesar das listas específicas para cada estilo musical, essas listas me pareceram um pouco limitadas em quantidade em comparação com a experiência que eu tinha anteriormente com o Spotify. Outro ponto negativo da minha experiência foi que, ao começar a escutar uma música específica, muitas vezes a reprodução parava nela mesma.
O Apple Music não conseguia, ao terminar uma música, automaticamente puxar outras do mesmo estilo ou até mesmo do mesmo artista. Isso raramente acontecia, gerando uma sensação de quebra na continuidade.
Além disto, a sensação de ter perdido tudo e estar começando do zero é muito grande. É impossível ignorar que eu já tinha um acervo musical conforme as minhas preferências e a sensação de ter que estar começando tudo de novo, num ambiente que não proporcionava a mesma experiência de acolhimento era um tanto quanto frustrante.
Integração do físico com o digital
A integração do produto físico com o digital é, sem dúvida, inovadora e disruptiva. O HomePod Mini, ao se conectar perfeitamente com o Apple Music, oferece uma amostra do potencial das tecnologias de integração entre hardware e software. Essa abordagem, que une o mundo físico e digital de maneira fluida, pode ser um diferencial competitivo significativo.
No entanto, apesar do bom início de conexão entre a inteligência em relação aos hábitos do usuário, essas conexões não foram suficientes para manter minha utilização a longo prazo. A falta de continuidade na reprodução musical e a necessidade de personalização manual acabaram pesando mais.
No fundo o que eu queria mesmo é, tocar uma música e automaticamente ter outras músicas reproduzidas, a partir do mesmo estilo musical ou artistias similares, sem a necessidade de "dizer" que eu queria isso.
É o hábito atual (escutar música até mandar parar) conectado a uma necessidade de descobertas prazeirosas (quero ouvir novidades relacionadas ou simplesmente músicas semelhantes).
Comparação entre Apple Music vs. Spotify
Preparei esta tabela onde comparo alguns recursos e principalmente a estratégia de aquisição de clientes e precificação dos dois produtos:
Em linhas gerais, foi uma experiência interessante, rica e com alta qualidade. No entanto, as limitações encontradas no Apple Music, especialmente em relação à personalização e à continuidade da reprodução musical, fizeram com que minha experiência não fosse completamente satisfatória.
A falta de integração automática de listas de reprodução personalizadas e a necessidade de um esforço manual constante para criar playlists acabaram se tornando barreiras significativas. Apesar da excelente qualidade sonora e das funcionalidades de rádio, optei por voltar ao Spotify pago, que atende melhor às minhas necessidades e hábitos musicais.
Isso reforça ainda mais a importância da formação de hábitos para a utilização de produtos e como esses hábitos vêm se moldando, se modificando e evoluindo. É crucial para os produtos acompanharem essa tendência para poderem aumentar o engajamento de seus clientes e usuários potenciais na aplicação.
Com uma abordagem estratégica bem definida e uma compreensão profunda do mercado, é possível oferecer insights valiosos e soluções inovadoras para impulsionar o crescimento do Apple Music e maximizar seu potencial.
Sugestões de Backlog
Ao integrar experiência prática e conhecimento técnico, aliando a experiência real que tive com os produtos, seria uma forma interessante de contribuir significativamente para o sucesso contínuo dessa plataforma, como as sugestões a seguir:
Importação de playlists personalizadas
Desenvolver uma funcionalidade que permita aos novos usuários importar suas playlists de outros serviços de streaming, como o Spotify, para o Apple Music, facilitando a transição e personalização inicial.
Melhoria nas recomendações de música
Implementar algoritmos mais avançados para a recomendação automática de músicas após o término de uma faixa, garantindo que músicas semelhantes, do mesmo artista ou do mesmo estilo, sejam reproduzidas sem interrupções.
Integração com assistente de voz Siri
Melhorar a integração com a Siri para permitir comandos de voz mais precisos e abrangentes, incluindo a criação de playlists, adição de músicas a listas existentes e recomendações personalizadas baseadas em comandos de voz.
Experiência de onboarding personalizada
Desenvolver um processo de onboarding que faça perguntas ao usuário sobre suas preferências musicais e histórico de uso de outros serviços, criando uma experiência personalizada desde o início.
Implementar essas melhorias pode ajudar a tornar a integração entre o Apple Music e o HomePod Mini mais eficiente e agradável, aumentando potencialmente a satisfação e a retenção dos usuários.
Claro que, como tudo em produto, nenhuma é garantia de sucesso e dependeria de testes e validações.
O que compartilhei acima são possibilidades e oportunidades de melhoria, que poderiam inclusive ser consideradas, priorizadas ou descartadas.
Onde você pode saber mais:
Site do Home Pod Mini da Apple
Artigos:
Princípios e boas práticas de User Onboarding
Designing user onboarding: lessons from Figma, Duolingo, and more
Livros para você se aprofundar:
Product-Led Onboarding: Como transformar novos usuários em clientes para sempre
HOOKED (ENGAJADO): Como construir produtos e serviços formadores de hábitos
👋 Oi, eu sou o Josias Oliveira. Esse artigo foi escrito com base nas minhas experiências e no meu conhecimento sobre produto. Se quiser saber mais sobre a minha carreira e novidades segue meu perfil lá no LinkedIn.